A fumaça do Cohiba Robusto permeava o ar, entre as tragadas intercaladas por goles de Maker’s Mark puro, como ele gostava.
Era seu bar de sempre. Seu território. E ele estava à caça.
Mas previa uma noite difícil. Uns poucos gatos pingados, universitários se exibindo com a grana do papai para meninas de cabeça oca à procura de filhos de papais ricos para se exibir. Alguns fariseus tomando seus drinks coloridos. Gente que não reconheceria uma bebida de qualidade nem se pingasse dos seios da Virgem Maria.
Definitivamente uma noite difícil…
Poucas mulheres.
Nenhuma aparentando ser minimamente interessante.
Já considerava a possibilidade de ir embora e (sacrilégio necessário) procurar outro bar, quando uma voz feminina, num tom carregado de um sotaque que não soube identificar, falou meio rouca de ironia:
– Se eu quisesse beber água não pediria Jack Daniel’s. Onde o treinaram para colocar seis pedras de gelo em uma dose de uísque? Numa loja de conveniência de posto de gasolina?
Sentiu um arrepio e olhou de lado. Ali estava ela. Ao contrário de todas as histórias cinematográficas de encontros românticos em bares noir, ela não era uma loira alta e longilínea. Não tinha mais que 1,65m.Tinha cabelos pretos cortados curtos, um corpo cheio de voluptuosas curvas, um sinal charmoso abaixo do lábio, no lado esquerdo de um rosto que lembrava uma menina ao mesmo tempo que insinuava uma mulher. E os olhos, aqueles olhos…
Imediatamente pensou em olhos de cigana oblíqua e dissimulada, detestando-se pela cretinice do clichê. Eram olhos que prometiam te dar o mundo, ou te jogar pra fora dele num momento de loucura. Olhos de determinada inteligência, cortantes, cheios de tesão pela vida, que o deixaram excitado ao cruzar com os seus.
Ela percebeu que ele a olhava e imediatamente sorriu, deixando entrever inúmeras possibilidades…
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Horas depois, estavam na cama dele, após um sexo demorado, dolorido e furioso.
Ele, como de hábito, procurava a maneira mais gentil de fazê-la entender que seria mais vantajoso para ambos que cada um dormisse em sua própria casa, quando ela falou, com uma entonação serena e firme:
Ele ainda tentou balbuciar umas desculpas, mas ela se levantou e ele se viu sem palavras contemplando aquela pele, aqueles seios, aquela bunda, e aqueles olhos.
Ela se dirigiu à porta e saiu, sem um adeus sequer.
Ele acendeu um cigarro, serviu uma dose de uisque e falou pra si mesmo:
– Que desgraçada mais esnobe! Preciso encontrá-la outra vez…